Óbvio que um fotógrafo como Sebastião Salgado nunca morre. Aliás, como nunca morrerão também Pepe Mujica e o Papa Francisco, que em menos de um mês também nos deixaram órfãos de suas presenças. As obras destes homens permanecem vivas entre todos nós, cada qual com sua riqueza e seus caminhos.
Mas eu quero me deter mais em Sebastião Salgado, uma pessoa fundamental para todos aqueles que desejam compreender mais sobre o mundo da natureza intocada, dos conflitos humanos, dos operários e migrantes, dos indígenas e dos sem-terra.
Aliás, foi o livro “Terra” que me trouxe a inspiração definitiva de que seria pela fotografia documental dos movimentos sociais de luta pela terra, uma das minhas mais importantes contribuições como pesquisador e como fotógrafo. E assim fui para todos os lugares que consegui e sempre que tive a chance coloquei em linha com minhas lentes o que um ser humano é capaz de fazer para ter uma vida digna.
Na verdade, eu nunca me inspirei na fotografia em si de Sebastião Salgado, apesar de todas terem a amplitude e o perfeccionismo dos grandes artistas da humanidade. São riquíssimas em significado e leituras possíveis de um mundo que precisa de ajuda, mais do que nunca. Mas, de fato, por uma opção meramente profissional e técnica, nunca saí para um trabalho fotográfico tendo como referência uma imagem dele, como seria normal, mas sempre deixei o meu lugar para conquistar outro tendo o ativista Sebastião Salgado como motivação.
Aí sim! Salgado sempre foi para mim uma referência pelo conjunto da obra, pela coragem da militância e pela humanidade que dele gritava. Como eu disse, Sebastião se foi, mas sua obra fica, ensina e provoca mais do que nunca.
Sebastião Salgado tinha o sonho em dizer para o mundo que o homem poderia ser um animal melhor do que é e fez isso em todas as cenas que produziu e publicou. Além, claro, da ação de reflorestamento que promoveu no Instituto Terra, na bacia do Rio Doce, em Minas Gerais.
Por isso tudo que quando um aluno quer saber o que fazer para ser um grande fotógrafo eu já adianto que vou decepcioná-lo ao dizer que não é pela câmera e muito menos pelos outros órios ou conhecimento meramente técnicos.
Ser um grande fotógrafo ou qualquer outro profissional que seja, a pela necessidade de no mínimo ouvir, ler e comungar dos conhecimentos deixados por pessoas comprometidas com o nosso mundo e com a humanidade que nela residem ou residiam. E conhecimentos, aliás, que sempre vão além dos ofícios primários.