Por que a gente naturaliza que uma só pessoa ganhe um salário de R$ 5 milhões?
Pois é essa a pergunta que me veio à mente quando soube o valor que o futuro técnico da Seleção Brasileira, Carlo Ancelotti, irá receber por mês. E vou confessar que o valor estava meio que ando batido. Em um primeiro momento, assim que li a notícia, pensei: “Nossa, finalmente esta novela de técnico da Seleção vai acabar e pi-pi-pó-pó.. Mas pera!. Cinco milhões reais por mês?”
Gente, uma informação assim é quase que uma violência em um país que paga seus trabalhadores muito, mas muito mal mesmo.
Salário-mínimo, defasagem salarial, precarização, empresários explorados cotidianamente com impostos, pejotização, uberização e etc: não há um ser que conheço, perto de mim pelo menos, que não tenha problemas financeiros sérios ao final do mês, que não conte cada centavo para fazer valer a luta mensal pela família, porque simplesmente não recebe o que precisa ou mereceria.
E de repente, vem do futebol, o esporte que nos aquece o coração, que é nossa paixão, a certeza de que o mundo é lugar muito esquisito mesmo para se viver.
Rapaz: cinco milhões!
E olha que eu já achava doido um jogador receber algo em torno de 400, 500 mil mensais. O Fernando Diniz, ex-técnico da Seleção, estava fechando com o Vasco para ganhar R$ 800 mil por mês e nesse dia que vi isso eu estava pensando como iria resolver o cartão de crédito do mês.
Óbvio que alguém pode dizer que o mundo capitalista é assim mesmo, que recebe mais quem pode mais e problema seu que não ganha isso.
Mas é muito ruim pensar que quase toda a estrutura humana que sustenta este mesmo futebol milionário não recebe quase nada para trabalhar: gandulas, funcionários de estádios e de clubes, publicitários, jornalistas, árbitros e a coisa vai piorando quando se escapa da esfera profissional.
Imagine se a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) decide investir R$ 5 milhões por mês a mais nas categorias de base, no futebol feminino, no incentivo a novos atletas, na arbitragem? Imagine os árbitros profissionalizados? Imagine a molecada indo treinar em centros especializados, com saúde e alimentação corretas?
Semana ada estive em um estádio de futebol e vi lá um senhor já bem velhinho ajudando a cortar a grama. Com certeza já era aposentado e trabalhava para ganhar um extra. Aparava a grama onde mais tarde iam pisar homens que recebem cifras muito maiores. É um desequilíbrio que esfrega em nossa cara que o dinheiro não é distribuído de forma justa nem aqui e nem na China.
Enfim, meus amigos: cinco milhões por mês! Cinco milhões!